quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sincericídio dos Tempos Modernos

Sempre que queremos falar sobre os relacionamentos que temos cotidianamente, acaba vindo a mente sempre aquele já famigerado termo: “tempos modernos”.

Baudelaire definiu a modernidade como sendo “o transitório, o fugidio, o contigente; é uma metade da arte, sendo a outra o eterno e o imutável.” Claro, nós não estamos mais na Paris de Baudelaire nem no século XIX, mas mesmo com todas as contestações que a pós-modernidade trouxe a ela, não é dificil definirmos nossos envolvimentos com outras pessoas com essas características ligadas a fugacidade tão típica do periodo moderno.

E essa fugacidade parece então ser tornado a base desses relacionamentos ditos modernos. As pessoas envolvem-se procurando one, two, three or more night stands, e parece que o pressuposto de todo envolvimento que se tem com alguém é que vai ser superficial e sem nenhum futuro sério.

E eu me incluo entre essas pessoas. Tão apegada somente ao desapego, eis que acabo agindo inconsequentemente, como se não houvesse um amanhã e pouco me importanto para os juízos de valores que surgirão em tudo isso. Sou de certo modo fria, não no modo de agir, mas na forma como permito (ou não) me envolver. Tendo como pressuposto, então, que tudo aquilo não vai passar de mais uma pegaçãozinha entre as outras, e que logo vai passar quando cada um já não tiver mais vontade.

Mas a gente não age só racionalmente e seguindo nossos impulsos biológicos. Sempre há aquela coisinha chamada sentimento que as vezes insiste em dar as caras no meio de tudo isso. E o que fazemos então quando ele surge? Ele, diferentemente das coisas modernas, não é fugaz e desaparece facilmente. Assim como ele permanece, ele requer permanencia. E ai, o que fazemos com o nosso tão cômodo e asséptico relacionamento moderno?

Não sou a melhor pessoa para relacionamentos, e quando me encontro nessa situação, realmente não sei como agir. Sinto me como uma idiota quando penso em revelar o que realmente sinto. E isso porque? Porque ao contrário de como as coisas seriam normativamente, parece me que deixar-se envolver é uma atitude inocente, se não “errada”. Ao invés de termos um relacionamento com alguém porque essa pessoa é especial para você, parece que nestes tempos modernos acabamos preferindo a maior parte das vezes aqueles que são quase indiferentes. E quando você surge com intenções distintas, abrindo seu coração, a pessoa geralmente acaba assustando-se e tudo acaba por aí. Quando se é sincero, geralmente coloca-se um ponto final no seu (pseudo?) relacionamento. E aquele que está cheio de sentimentos, fica na merda. Cometemos praticamente sincericídio.

E só eu acho “errado” isso? Não vou vangloriar me de ainda possuir uma certa nostalgia dos tempos não-modernos, porque eu sou uma das que mais procura sair intacta de tudo que vivo. E não me orgulho disto. Mas quando me encontro na posição do outro, fico realmente desnorteada. E não é bom. A fugacidade dos relacionamentos modernos não anda me parecendo mais tão atrativa, ao menos agora. Ainda falta, pelo menos para mim, descobrir a metade eterna e imutável dessa modernidade toda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E foi bom pra você?